Viver a radicalidade do Evangelho deveria ser um desejo de todos nós cristãos, mas infelizmente, muitos não entendem o que significa ser RADICAL. Uns acreditam tratar-se de exagero, outros deturpam o sentido da palavra. Antes de tudo, é necessário compreender o que é radicalidade. Segundo o dicionário, radicalidade é uma palavra derivada de RADICAL, que enquanto adjetivo quer dizer que "pertence à raiz", "algo inerente a uma coisa, que é inseparável dela" e ainda, radical é "relativo a origem ou ao fundamento". Obviamente, existem outros significados para esta palavra, porém, para o que estamos querendo falar, essas são suficientes.
Percebemos que quando somos radicais a qualquer coisa, quer dizer que estamos agindo conforme a origem, ao seu fundamento; seguir a Cristo, exige de nós uma radicalidade evangélica, exige que procuremos nos orientar conforme à Palavra de Deus, como se ela fosse inerente a nós, como se fossemos, eu e a Palavra, inseparáveis. O que acontece, no entanto, é uma RELATIVIZAÇÃO do texto bíblico, à algumas coisas eu me adéquo, outras, porém, é que precisam se adequar a mim.
Quando tomamos a decisão de sermos cristãos de fato, precisamos entender que certas coisas deverão ficar para trás, precisamos nos desapegar de velhos costumes, práticas e pensamentos. A conversão acontece diariamente e apesar das dificuldades que o mundo impõe, vamos caminhando rumo à santidade.
É preciso, contudo, pedir sempre discernimento e sabedoria, porque é muito fácil se perder nos caminhos da vida, mesmo aqueles que parecem ser de Deus. Quando menos esperamos, esquecemos o AMOR e só olhamos a LEI.
"Fanatismo consiste em redobrar o próprio esforço quando nos esquecemos do objetivo"
(Jorge Santayana)
Em outras palavras: é quando eu rezo, porque é uma obrigação; eu vou à Missa, porque se não for é pecado; eu ajudo quem precisa, porque preciso apagar meus pecados...e assim, esquecemos que devemos rezar para entrar em intimidade com Deus, de ir à Missa porque EU PRECISO deste alimento; de ajudar meu irmão, porque nele existe um "Cristo abandonado"...
O fanatismo por si só já é por demais perigoso para quem vive consigo, porém a tendência é sempre estender essa prática ao próximo e aí, começo a determinar o correto (do meu ponto de vista) e esqueço a realidade do meu próximo. Quero que ele tenha a mesma experiência que eu tive, que ele reze como eu rezo, que ele sinta como eu sinto. Calma, meu amigo! Cada pessoa tem sua história, a menos que ele queira abrir pra mim, a única coisa que eu posso fazer é respeitá-lo e esperar seu tempo.
Talvez você pense: que exagero! Eu não sou fanático(a), eu não sou igual aos fundamentalistas que matam em nome de Deus. Será? Será que eu nunca matei meu irmão, mesmo deixando-o vivo? Desejar a conversão de todos à sua volta é algo admirável e precisamos lutar diariamente para que mais e mais pessoas conheçam a Verdade: Conhecereis a VERDADE e ela vos libertará (Jo 8, 32), só que a verdade só pode ser revelada PLENAMENTE através do testemunho, é isso que converte de fato. Muito mais que convencer o outro pela palavra, DIZENDO o que é o certo, é preciso mostrar com gestos, atitudes: Todavia, sede praticantes da Palavra e não meros ouvintes (Cf. Tg 1, 22).
Ser RADICAL é querer ser, pensar, agir, como Jesus. Ser fundamentalista é querer que os outros sejam, pensem, ajam como eu. Eu mato meu irmão sempre que ele sai do meu lado, sem se sentir melhor, amado, um filho de Deus. Eu lhe do nova vida quando ele sai de minha presença crendo que não importa por onde andou, Deus está de braços abertos pra recebe-lo, basta que se arrependa e deseje voltar!
Que Nossa Senhora, no seu silêncio, nos ensine a pregar o amor com gestos. Suas palavras foram poucas, mas seu simples "sim" mudou a história da humanidade, mudou a minha história.
"Fale de Cristo apenas quando te perguntarem!
Mas vive de tal maneira que te perguntem por Cristo!"
(Paul Claudel)
Belíssimo texto!
ResponderExcluirRealmente, uma reflexão de vida!