Essa semana eu me deparei com uma situação que me fez refletir dias seguidos, então decidi compartilhar com vocês por aqui. Estava caminhando perto de minha paróquia e lá tem uma praça que quando olhei estava cheio de crianças acompanhadas de seus pais ou babás, outra mulher estava com um cachorro e mais uns dois casais estavam se exercitando, mas aquela cena quase poética foi quebrada pela realidade: vindo em direção à praça estava um rapaz, com uma garrafa PET que provavelmente tinha "cola".
Esse rapaz estava visivelmente fora de si, tinha um rosto de insanidade; estava sujo e seu cheiro era muito desagradável. Minha primeira reação foi medo pois ele estava caminhando em minha direção, mas ele desviou e foi seguindo para a praça, fiquei com medo também pelas crianças e pelas outras pessoas porque ele podia a qualquer momento ter um ataque de violência, então fiquei observando o que aconteceria. Ele andava ziguezagueando e foi parar na rua e um carro preciso desviar dele. Então eu olhei para as pessoas e ninguém prestou atenção naquele homem. Elas continuaram seguindo sua vida como se aquela pessoa não existisse e então meu medo deu lugar a tristeza.
Fiquei pensando naquele homem que perdeu toda sua dignidade, as drogas tinham destruído sua vida, ele era, aos olhos do mundo, um marginal, um drogado ou simplesmente invisível. Ele estava morto ou no mínimo imerso em um tipo de morte que podemos experimentar mesmo em vida. Ele não tinha mais liberdade e agia sob domínio do vício. Para Deus certamente ele ainda é um filho querido e cuidado, mas infelizmente, ele não podia mais experimentar a graça de Deus ou pelo menos ter consciência dela, porque não tinha mais razão, domínio de suas faculdades mentais, psíquicas e até mesmo físicas. E viver sem Deus é não viver, é estar morto.
Aquela situação certamente era uma consequência de uma série de fatos que levaram aquele rapaz e chegar naquele ponto, não podemos julgá-lo, somente ter misericórdia e orar por ele pra que tenha a oportunidade de sair daquela vida, mas diante disso tudo que refleti, comecei a considerar a cada um de nós que escolhe não viver. Aquela pessoa, no início, escolheu livremente seus caminhos e hoje não pode mais escolher porque não tem mais liberdade, mas houve um começo.
Nossas atitudes, enquanto estamos conscientes, podem nos levar a um estado daquele, talvez não num nível tão avançado, mas pode acreditar, meu irmão, minha irmã, perdemos a liberdade mais fácil que pensamos e qualquer passo errado pode nos levar a um caminho sem volta.
Deliberadamente escolhemos entregar nossa dignidade de bandeja ao mundo, nos prestamos a situações em troca de muito pouco: nossos corpos viram vitrine, nossa honestidade vai por lixo, nossos pensamentos se enchem de impurezas. Vamos nos entregando aos nossos instintos e deixamos de colocar Deus nas nossas escolhas. E isso é morte também.
"Porque este mandamento, que hoje te ordeno, não te é encoberto, e tampouco está longe de ti. Não está nos céus, para dizeres: Quem subirá por nós aos céus, que no-lo traga, e no-lo faça ouvir, para que o cumpramos? Nem tampouco está além do mar, para dizeres: Quem passará por nós além do mar, para que no-lo traga, e no-lo faça ouvir, para que o cumpramos? Porque esta palavra está mui perto de ti, na tua boca, e no teu coração, para a cumprires. Vês aqui, hoje te tenho proposto a vida e o bem, e a morte e o mal; Porquanto te ordeno hoje que ames ao Senhor teu Deus, que andes nos seus caminhos, e que guardes os seus mandamentos, e os seus estatutos, e os seus juízos, para que vivas, e te multipliques, e o Senhor teu Deus te abençoe na terra a qual entras a possuir. Porém se o teu coração se desviar, e não quiseres dar ouvidos, e fores seduzido para te inclinares a outros deuses, e os servires, Então eu vos declaro hoje que, certamente, perecereis; não prolongareis os dias na terra a que vais, passando o Jordão, para que, entrando nela, a possuas; Os céus e a terra tomo hoje por testemunhas contra vós, de que te tenho proposto a vida e a morte, a bênção e a maldição; ESCOLHE POIS A VIDA, para que vivas, tu e a tua descendência, Amando ao Senhor teu Deus, dando ouvidos à sua voz, e achegando-te a ele; pois ele é a tua vida, e o prolongamento dos teus dias; para que fiques na terra que o Senhor jurou a teus pais, a Abraão, a Isaque, e a Jacó, que lhes havia de dar." (Deuteronômio 30, 11-20)
Diante da Palavra de Deus, não tenho muito o que falar, ela basta. Escolhamos, pois, a vida, para que possamos viver na presença de Deus, para que possamos perceber suas graças em nossas vidas e mais ainda, que possamos antecipar o céu já em nossa vida aqui, cantando, louvando, na comunhão através da Eucaristia, no amor para com os irmãos.
Que o Senhor tenha misericórdia de todas as vezes que escolhemos a morte e não a vida e de todas as pessoas que estão escravizadas pelas drogas, sexualidade desequilibrada, dinheiro, pessoas. Rogai por nós, Santa Mãe de Deus, para que sejamos dignos das promessas de Cristo.
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