"Como colaboradores de Cristo, nós vos exortamos a não receberdes em vão a graça de Deus, pois Ele diz: 'No momento favorável, eu te ouvi e, no dia da salvação, eu te socorri.'. É agora o momento favorável, é agora o dia da salvação." ( 2 Cor 6, 1s)
O tal do ser humano é uma bicho estanho. Cada vez mais me convenço do quanto desperdiçamos nossas vidas, nossos talentos, dons com tanta coisa que não nos serve de nada!
Durante muito tempo eu me perdi em datas; o fato de ter boa memória me fazia guardar inúmeras lembranças com detalhes impressionantes, até mesmo pra mim. Se por um lado isso é bom, por outro já me causou muita dor, tristeza, culpa e até mesmo raiva. Já dizia Ingrid Bergman: Felicidade é boa saúde e má memória. Claro que não acredito que este o segredo da felicidade, mas tenho plena convicção que faz parte da receita.
Infelizmente, muitos de nós, direciona a memória à coisas sem importância, mas que colocamos num grau elevadíssimo em nossa estima que ocupam o lugar de algo que realmente mereça nosso sentimento. O aniversário, por exemplo, ficou marcado no nosso senso comum que deve ser lembrado e celebrado sem exceções, sob pena de acaso seja esquecido, torne-se ofensa das mais graves. Certamente ser lembrado naquele dia que você nasceu e as pessoas celebrarem isso com alegria, eleva nossa auto-estima e é até importante porque o homem necessita de ritos, mas daí fazer disso um referencial para amigos verdadeiros ou não, já se torna exagero.
Acontece que ultrapassamos o limite e passamos das datas para tudo que acontece ao nosso redor; facilmente esquecemos vários bens nos feito, por um único mal eventual. Ignoramos, desprezamos, desconsideramos uma amizade, que antes era tão estimada, em detrimento de fatos isolados que muitas vezes nada mais são que mal entendidos, esquecemos um "amor" de outrora, simplesmente porque não sabemos lidar com nosso orgulho.
Na mitologia grega, existiam dois deuses para o tempo: Kairos e Chronos; o primeiro era filho do segundo e estava relacionado ao tempo oportuno, enquanto que seu pai, Chronos, era aquele tempo que tinha duração, que era determinado. Quando São Paulo entrou em contato com a cultura grega, ele logo adequou este termo para a realidade cristã e tudo aquilo que era importante para nossa salvação, recebia o nome de Kairós ou TEMPO DA GRAÇA, que muito mais que cronologicamente, tornava-se eternizava pelo que causava na alma, como a Santa Ceia, que de tão importante e especial, não morreu ou ficou resumida a uma data do passado, mas eternizou-se de tal maneira que até hoje recordamo-a na nossas Missas diárias, foi um fato tão KAIRÓS que já faz 2.000 anos e continua tão vivo como aquele mesmo dia.
Por isso, meu amigos, muito mais que datas ou eventos marcantes, nossas vidas devem ser marcadas pelo Kairós, por aquele momento que pode ter acontecido numa tarde de terça-feira, mas causou tanto impacto em nosso coração que se eternizou; muito mais que aniversários, devemos celebrar o dia de HOJE, porque é só isso que temos. Muito mais que se apegar aos erros, as quedas, as tristezas que os outros nos causaram, devemos olhar os momentos felizes, as alegrias, os sorrisos que essas pessoas tiraram de nós, devemos olhar para aquilo que nos faz sorrir. O passado já não existe, porque sofrer com ele? Já os bons momentos nunca morrem, são eternos! A importância que as pessoas precisam ter em nossas vidas não precisa ser determinada pelo dia ou hora que ela apareceu, mas pelo que de bom ela deixou ou fez sair de nós.
Deixemos pra trás as mágoas, as tristezas. Peçamos a Deus a GRAÇA de perdoar e encher nosso coração de alegrias e boas lembranças. Que nosso tempo aqui neste mundo seja marcado pelo Kairós, para que quando nosso tempo Chronos chegar ao fim eu posso ter a firme certeza que vivi plenamente, sem deixar a GRAÇA passar!